Acreditamos que para tomarmos decisões acertadas devemos lidar racionalmente com os fatos, tentando ser menos emocionais. Em outras palavras, não confiamos às nossas emoções as decisões mais importantes das nossas vidas. Por quê?
A intensidade dos nossos sentimentos e a forma como fomos educados para não demonstrá-los livremente gerou em nós um desconforto no momento em que vivemos nossas emoções. São momentos rápidos e intensos, passíveis de serem dominados e reprimidos. Algumas pessoas fazem isto com muita competência e outras nem tanto.
A consequência danosa desta prática racional, desta ditadura da razão, é a incapacidade de acessarmos os nossos sentimentos em muitos momentos em que eles são muito necessários, como nas relações pessoais, superficializando as nossas experiências afetivas.
Surgem legiões de pessoas bloqueadas, incapazes de entenderem a resposta emocional do seu parceiro, do seu filho, do seu colega e do seu amigo. Amigo? Como ter amigos se não temos intimidade nem com nós mesmos?
A ação emocional é muito mais rápida que a racional e carrega com ela uma forte sensação de certeza. Esta deliberação irrefletida, sem passar pelo crivo da razão nos torna mais autênticos. É a liberação de um impulso original interno que ganha uma oportunidade de ser vivido.
Muito do que acontece no meu consultório é simplesmente o meu ato deliberado de consentir a manifestação de sentimentos não autorizados. Dores não vividas, saudades não conscientes, rejeição não manifesta. Tudo aparece depois de muito tempo guardado e de forma muito intensa.
Ao vivermos profundamente o que sentimos, sem julgamentos ou censuras, experienciamos um grande alívio e uma maravilhosa sensação de liberdade, apesar da carga dolorosa que estes momentos podem trazer.
A dor é um sentimento natural, inevitável e trás consigo uma grande carga de aprendizado e crescimento. Evitar senti-la é negar uma parte fundamental da vida e cria um deficit de amadurecimento pessoal.
Somos seres emocionais, extremamente sensíveis e todos necessitamos de acolhimento e aceitação. Devemos acolher e aceitar à nós mesmos e às nossas emoções, assumindo riscos e vivendo a única vida possível: a nossa própria vida.
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