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MINHA FAMILIA

Às vezes me pego pensando em como teria sido se eu tivesse vivido em outra família, que não a minha. É um exercício inútil, como todos que iniciam com a palavra “se”. Porém me faz refletir sobre os sentimentos que me acompanham por toda a vida. E tentar dar um significado à eles.

Olhando uma foto antiga, em que estão todos juntos, é fácil perceber que existiu um hiato de tempo entre a formação do grupo familiar e o meu surgimento. Eu sou o chamado “temporão”, ou o que vem depois do tempo que se supõe apropriado.

Tenho a tentação de me apagar da foto. Vejo que não faria falta. Ao contrário, a imagem ficaria mais homogênea.

Me vêm lembranças de distanciamento dos meus irmãos. Em consequência da diferença de idade, eu não possuía as suas habilidades e seus interesses. A cumplicidade que eles construíram entre si, e eu não. E a minha relutância em aceitar essa realidade.

Me lembro de como eu sonhava ter tido um irmão gêmeo. Um irmão próximo com quem dividir o meu tempo e o que sentia. Um desejo de companhia e amizade.

Tudo gera consequências, e o pequeno Celso tornou-se um menino agitado, observador e questionador e com uma certa urgência para ser feliz. Jamais mudei.

Fui capaz de me proporcionar essa cumplicidade com pessoas próximas, no decorrer da vida. Mas também desenvolvi um certo prazer de estar apenas comigo. Uma espécie de auto-suficiência.

Pensando bem, talvez a presença de mais conforto e paz nos meus primeiros anos teriam roubado capacidades que o sofrimento me trouxe. Nunca saberei ao certo. Mas é melhor pensar assim.


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