Eu era um jovem estudante de Medicina. Meu pai estava doente. Comemoramos juntos, naquele ano, a minha admissão em um disputado estágio de férias. O mundo estava abrindo as suas portas e eu caminhava resoluto em sua direção.
O volume de experiências, lembrando agora, era avassalador. Não apenas o conteúdo que necessitava ser compreendido e estudado. Mas as sensações desconhecidas, intensas e exigentes. Era a minha própria exigência que me fazia querer ser melhor.
Junto com a realização pessoal chegavam os medos e a dúvida. Serei capaz? Estarei à altura do que é esperado de mim? Estava perante o maior desafio que eu já havia enfrentado.
Em meio a todo esse turbilhão, um par de olhos me observava, sem que eu percebesse.
Certo dia o diretor da enfermaria me chamou para uma conversa particular. Me disse que percebia o meu sofrimento e que haviam outras formas de lidar com tudo o que eu sentia.
Escreveu um nome e um telefone em um pedaço de papel, estendeu o braço e eu imediatamente aceitei. Agradeci pelo seu interesse no meu bem estar e pela sua amizade. Não acredito que o tenha agradecido o suficiente.
Foi assim que conheci o Dr. Nelio, o meu terapeuta. Homem de métodos bem definidos, mas que não conseguiam esconder a sua paixão por cuidar de seus pacientes. Um homem dedicado e sagaz.
Foram anos difíceis. Infernos internos e externos.
Certo dia lhe liguei para informar que não poderia comparecer ao nosso encontro. Ingenuamente me perguntou a razão. Eu estava sofrendo e era muito jovem.
“Porque o meu pai está morrendo!”, gritei ao telefone.
Após saber que eu estava em um hospital naquele momento, me surpreendeu com um pedido.
“Posso passar aí após o término dos meus atendimentos?”
No final daquele dia, estávamos juntos na unidade de tratamento intensivo. Estar ali é um dos privilégios para os que praticam a Medicina. Foi o que me permitiu ficar com o meu pai.
Na hora em que mais necessitei, tive a presença do meu terapeuta ao meu lado.
Entre o vazio e a desolação absoluta, a sua presença foi um apoio valioso.
Me lembro claramente da única vez em que o vi chorar.
Estávamos nos despedindo, após o término do nosso trabalho. Eu havia lhe dado um livro de presente. Escrevi a dedicatória na página em que estava impressa a citação de uma frase do Freud:
“A psicanálise é, em essência, a cura pelo amor.”
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