Nesses tempos de telefones celulares “inteligentes”, aplicativos, mensagens instantâneas, redes sociais e "games", precisamos estar atentos às implicações dessas mudanças nas nossas vidas emocionais.
Estes aparelhos ditos "conectados" ocupam cada vez maior espaço no nosso dia, trazendo volumes intermináveis de informação (não confundir informação com conhecimento) e intermediando o nosso contato com as pessoas. Esses novos hábitos estão consolidando-se de maneira assombrosamente rápida, em todas as faixas etárias.
Para descrever todas as consequências dessas mudanças seria necessário muito tempo e espaço. Vou me limitar a descrever uma parte do que observo diariamente.
As pessoas estão com dificuldades para diferenciar quando conversam com alguém pessoalmente do contato digital pelo aparelho. A possibilidade de simplificar a experiência interpessoal está eliminando o contato humano não intermediado. Escuto me dizerem que só conseguem se comunicar pelos aparelhos ou que preferem dessa maneira. Isso é preocupante, não tenho dúvidas. A facilidade, a simplificação empobrecendo e substituindo as trocas pessoais e afetivas.
Porém, sem diminuir a gravidade do que descrevi, o que tem me assustado e preocupado é outro efeito colateral grave da comunicação moderna.
Quando leio linhas de palavras ou vejo imagens que sugerem reações humanas não me sinto responsável completamente pelo que darei em troca, seja atenção e acolhimento ou indiferença. A perda da consciência exata do que o outro é e sente tem criado nas gerações mais jovens a perda de uma importante capacidade. A capacidade de reconhecer o outro, a sua existência, a sua presença. A possibilidade de digitalizar a experiência interpessoal possibilita a negação da existência do outro.
Vemos a consequência disso na diminuição da cortesia, da gentileza e da empatia nos espaços públicos. Estamos gradualmente mais isolados e com menor sensação de sermos protegidos pelos nossos semelhantes.
O vazio, a nulidade são cada vez mais presentes e geram maior suscetibilidade aos sentimentos depressivos e atacam a nossa capacidade criativa e original.
Existir deixou de ser simples. Sentimos que possuirmos uma escala de valores, vivermos por princípios não é o bastante. Estamos desenvolvendo como nunca uma variedade infinita de falsos sentimentos adaptativos para nos sentirmos mais fortes e seguros. A cada dia existir tornou-se um desafio.
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